Durante muitos anos, como
seminarista e depois como padre, tive a oportunidade de conviver com uma pessoa
simples, empobrecida, que lutava diuturnamente para manter-se. Diante das
dificuldades, que sempre partilhava comigo, sempre dizia: “Deus é Pai! Um
dia o senhor vai ver, Deus é Pai!”. Com esta expressão ela exprimia, ao
mesmo tempo, confiança na bondade e na justiça de Deus.
Estamos já vislumbrando o
dia dos pais, no segundo domingo de agosto, dia 12, neste ano. E pensando nos
pais, recordei-me desta expressão que ouvi tantas vezes daquela senhora,
“Deus é Pai!”. Ela experimentara na sua família a beleza de ter um
pai, certamente, para poder com tanta confiança afirmar a partir dele a bondade
e a justiça de Deus Pai.
“Não chameis a
ninguém na terra de ‘pai’, pois um só é vosso Pai, aquele que está
nos céus”(Mt 23, 9). Esta palavra de Jesus
Cristo pode desconcertar-nos, se não a compreendemos bem; mas também é
iluminadora para entendermos a paternidade humana a partir da Paternidade de
Deus.
Iniciamos a nossa
profissão de fé rezando: “Creio em Deus Pai todo-poderoso”. Qual o
significado desta afirmação? “Veneramos Deus, antes de mais, por ser Pai,
porque Ele é o Criador e Se encarrega das suas criaturas cheio de amor. Além disso,
Jesus, o Filho de Deus, ensinou-nos a considerar o Seu Pai como nosso Pai, e
abordá-LO mesmo como Pai Nosso”(Youcat /37).
Encontramos no Catecismo
da Igreja Católica a seguinte explicação: “Ao designar a
Deus com o nome de ‘Pai’, a linguagem da fé indica principalmente
dois aspectos: que Deus é origem primeira de tudo e autoridade transcendente, e
que ao mesmo tempo é bondade e solicitude de amor para todos os seus filhos.
Esta ternura paterna de Deus pode também ser expressa pela imagem da
maternidade, que indica mais a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a
sua criatura. A linguagem da fé inspira-se assim na experiência humana dos pais
(genitores), que são de certo modo os primeiros representantes de Deus para o
homem. Mas esta experiência humana ensina também que os pais humanos são
falíveis e que podem desfigurar o rosto da paternidade e da maternidade. Convém
então lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é nem
homem nem mulher, é Deus. Transcende também à paternidade e maternidade
humanas, embora seja a sua origem e a medida: ninguém é pai como Deus o
é”(CIC 239).
Em Jesus Cristo contemplamos a expressão da
Paternidade de Deus: “Jesus revelou que Deus é ‘Pai’ num
sentido inaudito: não o é somente enquanto Criador, mas é eternamente Pai em
relação a seu Filho único, que reciprocamente só é Filho em relação a seu Pai:
‘Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece
o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser
revelar(Mt 11, 27)”(CIC 240).
A paternidade humana
encontra a sua verdadeira natureza e sentido a partir da Paternidade de Deus.
Ao modo de Deus Pai, guardando a devida distância, a pessoa humana é chamada a
viver a paternidade.
Deus Pai é criador, educador e santificador de seu povo.
A paternidade humana participa, de algum modo, desta
Paternidade Divina ao criar, educar e santificar os seus filhos. Os filhos
contemplando a paternidade humana devem poder vislumbrar nela sinais seguros da
Paternidade Divina e serem, pela recepção, educação e amadurecimento da fé,
levados a almejar a comunhão plena com Deus Pai, através de Jesus Cristo e
movidos pela graça do Espírito Santo.
Aos pais o nosso abraço e
saudação. Com a nossa humilde oração, pedimos que Deus Pai fortaleça nossos
pais para viverem na alegria a sua missão de cooperadores na criação, educação
e santificação dos seus filhos. Nunca nos esqueçamos, Deus é Pai!
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Auxiliar na
Arquidiocese de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário